Porcentagem de medicamentos potencialmente perigosos ou de alta vigilância prescritos em protocolos de administração, com abreviaturas de nomes, doses e via de administração potencialmente perigosas

Fonte
Projeto de desenvolvimento de indicadores de segurança para medicamentos (financiado pelo "Canadian Patient Safety Institute" - Canadá).
Definição

Número de medicamentos potencialmente perigosos ou de alta vigilância prescritos em protocolos de administração, com abreviaturas de nomes, doses e via de administração potencialmente perigosas, como porcentagem de todos os medicamentos potencialmente perigosos ou de alta vigilância prescritos.

Nível de Informação
Dimensão da Qualidade
Numerador

Número de medicamentos potencialmente perigosos ou de alta vigilância prescritos em formulários pré-impressos (protocolos de administração) com abreviaturas potencialmente perigosas para o nome do medicamento, a dose, a via de administração e a frequência das doses.

Denominador

 Número de medicamentos potencialmente perigosos ou de alta vigilância prescritos na amostra.

Racionalidade

A maior parte dos erros de medicação relacionados ao uso de abreviaturas perigosas e designações de dose pouco claras envolve prescrições escritas à mão (ISMP Canada, 2006). A implementação de um protocolo padronizado de escala de insulina (sliding scale insulin, SSI) e prescrições médicas pré-impressas reduziram os erros de prescrição e a frequência de hiperglicemia (os erros de prescrição e os episódios de hiperglicemia depois de 1 ano diminuíram de 10,3 para 1,2 e 55,9 para 16,3 por 100 pacientes-dia SSI, respectivamente) (Donihi et al., 2006). Portanto, ao não conterem abreviaturas ou designações de dose problemáticas, as prescrições pré-impressas têm o potencial de reduzir os erros de medicação.

Estudo piloto realizado pela equipe desenvolvedora deste indicador (Nigam et al., 2007), mostrou que o percentual de erros na prescrição pré-impressa foi mínimo (nome do medicamento - 0%; dose - 1%; unidade da dose - 1%; via de administração - 6%; frequência das dose - 1%). Os 6% de erros na via de administração deveu-se a não indicação da via no formulário pré-impresso (ou seja, falta de dados). A maioria dos hospitais amostrados não tinha protocolos padrão de administração de insulina e heparina. Certamente existe a necessidade de padronizar os protocolos de administração quando aplicável, de modo que todos os serviços hospitalares utilizem os mesmos formulários. Entretanto, antes da aprovação dos protocolos de administração, as abreviaturas e designações de dose problemáticas devem ser eliminadas. A revisão de prescrições pré-impressas revelou os seguintes erros: uso de “u” para unidades no protocolo padronizado de infusão de heparina; doses de medicamentos com zeros após a vírgula decimal no protocolo padronizado de infusão de heparina; via de administração não descrita nos formulários de prescrição de analgesia controlada pelo paciente (ACP). O uso de formulários de prescrição médica pré-impressos sem abreviaturas e designações de dose suscetíveis a erros deve reduzir os erros de prescrição.

Interpretação

 Este indicador avalia a necessidade e o uso de protocolos padronizados de administração de medicamentos de alto risco para reduzir os erros de prescrição.

O estudo piloto sobre este indicador (Nigam et al., 2007) indicou que seriam necessários de 1 a 3 meses, de acordo com o tipo e o tamanho do hospital, para que a farmácia recebesse 1500 prescrições para os 5 medicamentos avaliados (morfina, insulina, heparina, digoxina e levotiroxina) e 3 dias de 8 horas para registrar todas as entradas no banco de dados computadorizado. O hospital materno/infantil participante do piloto teve dificuldade em coletar uma quantidade suficiente de prescrições para os medicamentos examinados. Entretanto, a instituição efetivamente coletou o número necessário de prescrições dentro do cronograma do estudo realizando uma coleta retrospectiva e prospectiva de prescrições. Portanto, este indicador se mostrou mensurável em diversos ambientes clínicos (hospitais urbanos, hospitais comunitários rurais e hospital materno/infantil).

Limitações indicadas pelo estudo piloto realizado:

1) Como as prescrições de medicamentos são coletadas prospectivamente na farmácia do hospital, os farmacêuticos podem se tornar cientes do estudo e alterar os hábitos de prescrição. O conhecimento prévio do estudo aparentemente não afetou os hábitos de prescrição.

2) Quando as abreviaturas são combinadas a outras palavras ou numerais por um profissional da saúde, podem ser mal interpretadas por outro. Nesta análise, as prescrições de medicamentos não foram todas revistas, portanto os erros causados por abreviaturas combinadas não foram avaliados.

3) Neste indicador é calculada a porcentagem de abreviaturas e designações de dose potencialmente perigosas de medicamentos prescritos. Não é determinado se ocorreu algum erro de medicação e/ou dano ao paciente, pois para isso seria necessário um extenso acompanhamento do paciente e revisões de prontuários.

4) As prescrições foram coletadas prospectivamente, pois as instituições do estudo indicaram que seria necessário muito tempo e trabalho para buscar os registros da farmácia ou os prontuários dos pacientes retrospectivamente em busca de prescrições. Entretanto, as prescrições de morfina, insulina, heparina, digoxina e levotiroxina não são muito comuns em hospital materno/infantil. Durante as etapas iniciais do estudo-piloto, determinou-se que essa instituição só iria coletar aproximadamente 200 prescrições por mês utilizando a coleta prospectiva de dados. Com base nessa taxa, seriam necessários 10 meses para completar a amostra recomendada. Portanto, a instituição continuou a coletar prescrições prospectivamente durante 3 meses e realizou uma busca retrospectiva das prescrições específicas no sistema informatizado da farmácia de janeiro a maio de 2007 (4 meses). Embora tenha exigido muito trabalho, a instituição efetivamente coletou as 1500 prescrições necessárias para o período de estudo de 3 meses.

Amostra indicada para monitoramento local (ao nível do hospital): coletar todas as prescrições dos nomes genéricos e comerciais da morfina, insulina, heparina, digoxina e levotiroxina prospectivamente na farmácia do hospital durante 1 a 3 meses, conforme o tamanho e/ou o tipo de hospital. As prescrições de digoxina e levotiroxina estão incluídas para avaliar o uso de zeros antes da vírgula decimal, pois as doses de tais medicamentos se encontram dentro dessa faixa ("0,X" mg). No entanto, as prescrições de outros medicamentos mais aplicáveis, também podem ser coletadas e avaliadas por este indicador. Coletar um total mínimo de 1500 prescrições de todos os 5 medicamentos, gera uma amostra de tamanho adequado para detectar uma taxa de erros de 10%. De acordo com o tamanho (com base no número de leitos) e tipo de hospital (o que influencia quais tipos de prescrições são escritos), podem ser necessários vários meses para coletar o número mínimo de prescrições.

As seguintes prescrições estão excluídas:

1) Qualquer prescrição para administração por “tubo”, já que atualmente não há abreviaturas padronizadas (tubos de gastrostomia endoscópica percutânea, gastrostomia, jejunostomia e nasogástrico).

2) As lavagens (“flushes”) com heparina foram excluídas, pois algumas instituições podem usar solução salina nas lavagens e não heparina para manter a patência de cateteres centrais.

Uma amostra maior pode ser coletada dentro do cronograma do estudo se a coleta de prescrições não for restrita a certos medicamentos. Uma amostra maior irá aumentar a sensibilidade dos dados.

A viabilidade de se utilizar este indicador num ambiente clínico pode ser avaliada pela coleta das seguintes informações: tempo para a coleta das prescrições, tempo para inserir os dados no banco de dados computadorizado, problemas comuns encontrados (isto é, acessibilidade e complexidade da coleta de dados) e sugestões de melhoria.

Este indicador é adequado para a comparação entre hospitais ou entre ambulatórios. Entretanto, é preciso implementar verificações de garantia de qualidade para assegurar que todos os profissionais que insiram dados no sistema (técnicos de farmácia ou estudantes de farmácia) dos diferentes hospitais ou ambulatórios estejam interpretando as prescrições de maneira semelhante (por exemplo, se os profissionais pensaram que a prescrição era ilegível, um farmacêutico deve confirmar a ilegibilidade). Além disso, os métodos de coleta, monitoramento e análise/relato dos dados devem ser estabelecidos antes de se realizar um estudo comparativo.

Bibliografia

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3. Institute for Safe Medication Practices (ISMP). ISMP’s list of error-prone abbreviations, symbols, and dose designations. [Website of the Institute for Safe Medication Practices]; 2006. Available: www.ismp.org/Tools/errorproneabbreviations.pdf (accessed 2007 Dec 11).

4. Institute for Safe Medication Practices (ISMP). ISMP’s list of high-alert medications. [Website of the Institute for Safe Medication Practices]; 2006. Available: www.ismp.org/Tools/highalertmedications.pdf (accessed 2007 Dec 11).

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6. Nigam R, Mackinnon NJ, Nguyen T. Validation of Canadian Medication-Use Safety Indicators. Presented to CPSI. Halifax, Nova Scotia December 21, 2007.

7. Nigam R, Mackinnon NJ, U D, Hartnell NR, Levy AR, Gurnham ME, et al. Development of canadian safety indicators for medication use. Healthc Q 2008;11(3 Spec No.):47-53.

8. Ministério da Saúde (MS); Anvisa; Fiocruz. Anexo 03: PROTOCOLO DE SEGURANÇA NA PRESCRIÇÃO, USO E ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS. Ministério da Saúde. 2013

Ano da Publicação
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269

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