Taxa de embolia pulmonar ou trombose venosa profunda perioperatória
Casos de embolia pulmonar (EP) ou trombose venosa profunda (TVP) perioperatórias, em pacientes com 18 anos ou mais.
Resultado
Segurança
Altas com código da Classificação Internacional de Doenças (CID), no diagnóstico secundário, de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar, entre os casos que preencham os critérios de inclusão e exclusão do denominador.
Códigos da CID-10:
I26.0 - Embolia pulmonar com menção de cor pulmonale agudo
I26.9 - Embolia pulmonar sem menção de cor pulmonale agudo
I80.1 - Flebite e tromboflebite da veia femural
I80.2 - Flebite e tromboflebite de outros vasos profundos dos membros inferiores
I80.3 - Flebite e tromboflebite dos membros inferiores, não especificada
I80.8 - Flebite e tromboflebite de outras localizações
I80.9 - Flebite e tromboflebite de localização não especificada
I82.8 - Embolia e trombose de outras veias especificadas
I82.9 - Embolia e trombose venosas de veia não especificada
Altas cirúrgicas de pacientes com 18 anos ou mais, com código de procedimento em sala de cirurgia.
Exclusões:
1. Internações com diagnóstico principal de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar, ou como diagnóstico secundário se presente no momento da admissão;
2. Internações nas quais um procedimento para interrupção da veia cava é o único procedimento na sala de cirurgia;
3. Internações nas quais um procedimento para interrupção da veia cava ocorre antes ou no mesmo dia do primeiro/principal procedimento em sala de cirurgia (observação: se o dia do procedimento não estiver disponível, a taxa pode ser ligeiramente mais baixa do que nos casos em que a informação esteja disponível);
4. Internações relacionadas a gestação, parto e puerpério;
5. Internações com sexo, idade, data, ou diagnóstico principal desconhecido.
A ocorrência de TVP/EP pós-operatória pode gerar desde sintomas leves até consequências clínicas devastadoras, como dor, dispnéia e morte. Com relação à embolia pulmonar, a taxa de mortalidade fica abaixo de 8% quando detectada e tratada corretamente, mas chega a 30% quando a condição não é reconhecida nem tratada (Olin, 2002). Este evento adverso pode ser evitado com o uso apropriado de anticoagulantes e outras medidas preventivas; existem diretrizes baseadas em evidências para isto (Geerts et al., 2004).
Os painelistas da AHRQ que participaram do desenvolvimento deste indicador classificaram a sua utilidade geral como relativamente alta em comparação com outros indicadores. Eles observaram que práticas preventivas devem reduzir a taxa deste indicador.
Como o risco de TVP/EP varia amplamente segundo o tipo de procedimento realizado, os painelistas sugeriram que este indicador fosse ajustado ou estratificado segundo o tipo de procedimento cirúrgico.
Internações sinalizadas por este indicador apresentaram uma mortalidade adicional de 6,6%, prolongamento da internação em 5,4 dias e US$ 21.700 em custos hospitalares adicionais, em comparação com controles cuidadosamente pareados que não foram sinalizados (Zhan e Miller, 2003). Este achado foi confirmado no sistema de hospitais da Veteran Affairs (VA), no qual os casos sinalizados tiveram uma mortalidade adicional de 6,1%, prolongamento da internação em 4,5 a 5,5 dias e US$ 7.205 a 9.064 em custos hospitalares adicionais, em comparação com controles cuidadosamente pareados que não foram sinalizados (Rivard et al., 2008). Uma replicação mais recente, com dados de 2007 e corrigida para tromboses descritas como “presentes no momento da internação”, estimou um prolongamento da internação em 7,8 dias e US$ 18.331 em custos hospitalares adicionais, em média (Foster et al., 2009).
Tanto entre pacientes do Medicare como da Veterans Health Administration, este indicador esteve fortemente relacionado a outros dois indicadores de segurança do paciente da AHRQ (pneumotórax iatrogênico e infecções selecionadas causadas pelo cuidado médico) (Rosen et al., 2009). Este indicador esteve significativamente associado à reinternação em três meses (risco relativo = 1,28) ou um mês (risco relativo = 1,25), após o ajuste para as características dos pacientes, usando-se dados cirúrgicos de 2004 de sete estados dos EUA (Friedman et al., 2009).
Em outro estudo, falhas explícitas no processo de cuidado foram relativamente frequentes entre os casos sinalizados por este indicador (72% dos pacientes submetidos a grandes cirurgias, 69% dos pacientes clínicos) após a exclusão de pacientes que apresentavam TVP/EP no momento da internação. Neste estudo, os controles não sinalizados não foram avaliados com base nos mesmos critérios (Iezzoni, 1999). Em outro estudo, os revisores médicos identificaram problemas potenciais de qualidade em 50% dos pacientes cirúrgicos e 20% dos pacientes clínicos sinalizados por este indicador, versus 2% nos controles não sinalizados em cada grupo de risco (Weingart et al., 2000).
Ao menos dois estudos avaliaram a validade de construto dos códigos da CID-9-CM mapeados neste indicador por meio da correlação com medidas estruturais das equipes de enfermagem. Em 1997, um estudo de Needleman e Buerhaus (Needleman et al., 2002) revelou que a composição da equipe de enfermagem era independente da ocorrência de TVP/EP tanto entre pacientes submetidos a grandes cirurgias como em pacientes clínicos de 799 hospitais situados em 11 estados americanos. Entretanto, Kovner e Gergen relataram que, em 506 hospitais comunitários no ano de 1993, um maior número de horas de enfermeiros e auxiliares de enfermagem por paciente-dia ajustado esteve associado a uma taxa mais baixa de TVP/EP após grandes cirurgias (Kovner e Gergen, 1998). A composição das equipes de enfermagem não esteve associada à taxa de TVP/EP após procedimentos vasculares invasivos. As taxas deste indicador estiveram marginalmente (p = 0,06) associadas à adoção de programas clínicos informatizados em 98 hospitais da Flórida (Menachemi et al., 2007), mas não estiveram associadas à adoção de sistemas de prontuários eletrônicos em pacientes do Medicare (Parente e McCullough, 2009), nem em 66 hospitais da Geórgia (Culler et al., 2007).
Vários estudos menores sugeriram uma sensibilidade e Valor preditivo positico (VPP) adequados para os códigos de EP em pacientes cirúrgicos, embora a sensibilidade dos códigos de TVP tenha sido notavelmente mais baixa (Keeler et al., 1992; Romano et al., 2002; Hawker et al., 1997; Best et al., 2002). Com base nestes achados, a AHRQ limitou este PSI aos casos cirúrgicos.
Uma limitação imposta ao indicador é impossibilidade de se distinguir entre tromboses presentes no momento da internação e tromboses que surgiram durante a internação hospitalar. Alguns dados dos EUA incluem atualmente uma variável de “sinalização” que determina se cada diagnóstico estava ou não presente no momento da internação. A porcentagem de casos sinalizados por este indicador, nos quais o evento foi descrito como uma complicação da internação hospitalar, foi de apenas 46% na Califórnia, 43% em Nova York, 40% na área de Rochester, em Minnesota, e 51 a 67% na Universidade de Michigan (Houchens et al., 2008; Naessens et al., 2007; Bahl et al., 2008). As taxas específicas de cada hospital com a inclusão de tromboses descritas como presentes no momento da internação apresentaram correlação variável com as taxas obtidas após a exclusão de tais tromboses (r = 0,80 na Califórnia, r = 0,41 em Nova York), mesmo entre pacientes submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica (r = 0,63 na Califórnia) (Glance et al., 2008).
As melhores evidências recentes sobre o VPP deste indicador vêm dos 47 hospitais que participaram do projeto piloto da AHRQ para validação de alguns PSI (N = 155) e dos 33 hospitais que participaram de uma iniciativa paralela realizada pelo "University Health System Consortium" (UHC, N = 505). Neste estudo, apenas 13% dos eventos sinalizados estavam presentes no momento da internação e 8% careciam de documentação clara sobre uma trombose venosa aguda, deixando 79% de casos confirmados como complicações iatrogênicas (White et al., 2009). No entanto, 29% dos eventos confirmados envolveram veias dos membros superiores, torácicas ou superficiais (que não são alvos da prevenção), reduzindo o VPP geral para 56% (IC 95%, 52 a 60%). Nos 33 hospitais de ensino, os revisores também reviram 517 casos que não foram sinalizados por este indicador e não encontraram nenhum falso negativo (sensibilidade = 100%, IC 95%, 53 a 100%). Oito hospitais da Bélgica apresentaram VPPs de 54 a 59%, com um único caso falso negativo entre 1392 registros revistos (Gillet et al., 2008).
A comparação de dados hospitalares administrativos entre o "Department of Veterans Affairs e os dados clínicos resumidos do National Surgical Quality Improvement Program" de 2001 (Romano et al., 2009) apresentaram uma sensibilidade de 56% e um VPP de 22%, embora o VPP de uma revisão mais recente de 112 casos selecionados aleatoriamente de 2004 a 2007 tenha sido de 56% (Borzecki et al., 2009). Assim como no projeto da AHRQ de validação de PSIs, a maior parte dos falsos positivos dos hospitais do VA foi atribuída a tromboses crônicas presentes no momento da internação, tromboses de membros superiores ou tromboses superficiais de membros inferiores que não precisavam de anticoagulação.
Evidências de Nova York, da Dinamarca e da Nova Zelândia sugerem que um número significativo de eventos verdadeiros pode não ser verificado, pois tais eventos ocorrem após a alta hospitalar; quando consideradas as reinternações em 30 dias em Nova York, a taxa geral deste PSI subiu de 9,3 para 11,3 por 1000; 45% dos eventos pós-alta foram êmbolos pulmonares. Em suma, evidências recentes sugerem que este indicador deve ser usado com cautela (Weller et al., 2004; Stevanovic, 2009).
A subnotificação NÃO parece ser um problema, com base em estudos realizados nos EUA e na Bélgica. Recomenda-se o ajuste de risco nas comparações entre provedores (AHRQ, 2007), para assegurar que a variação causada por diferenças nas populações de pacientes atendidas pelas instituições seja removida.
As taxas notificadas de TVP/EP pós-operatória variam entre os países participantes da OCDE de 0,1 a 1,4% (Saskia et al., 2009). A maior parte dos países apresenta taxas ligeiramente mais altas em mulheres, mas os EUA e a Irlanda têm taxas mais altas em homens e uma maior discrepância entre os sexos. Como esperado, as taxas são mais altas em pacientes com 70 anos de idade ou mais que em grupos etários mais jovens, em todos os países. O ajuste direto por estratos de idade-sexo de 5 anos não afetou substancialmente as taxas do indicador nos países, embora dois países tenham subido uma posição (e outros dois tenham descido uma posição para compensar) (Saskia et al., 2009). Foi encontrada uma dependência estatisticamente significativa entre as taxas do indicador e a quantidade de registros, expressa como o número médio de diagnósticos secundários. Países com mais diagnósticos codificados notificaram taxas mais altas.
Dados administrativos de hospitais comunitários em 16 estados dos EUA foram analisados para analisar se as diferenças raciais e étnicas em eventos de segurança do paciente desaparecem quando a renda (um substituto para o estado socioeconômico) é levada em consideração (Coffey et al., 2005). Sendo observado que este indicador ocorre com frequência significativamente mais alta em pacientes negros e hispânicos que em pacientes brancos.
A EP é uma complicação importante de cirurgia ortopédica de grande porte e o risco de TEV é maior em pacientes submetidos a artroplastia de quadril e de joelho. Dados recentes sobre a incidência de tromboembolismo venoso nestes pacientes mostraram que a maioria apresentou EP e TVP nas primeiras 72 h após a cirurgia. Pacientes submetidos à reparação de fratura de fêmur, com idade ? 65 anos, e pacientes acamados tinham grande risco de desenvolver TVP. Os resultados deste estudo demonstram que apesar da utilização de tromboprofilaxia a TEV foi uma complicação importante. (AKPINAR et al, 2013). O que corrobora com estudos anteriores que já mostravam preocupação com relação a adesão profilática para cirurgias de grande porte e outras. “Apesar das indicações bem definidas da heparina na profilaxia do tromboembolismo venoso, verifica-se adesão incompleta por parte dos profissionais médicos da especialidade, expondo os pacientes a complicações graves” (DIOGO-FILHO et al , 2009).
Idade, sexo, comorbidades, procedimentos
Tipo de procedimento realizado
Este indicador limita os códigos de complicações vasculares ao diagnóstico secundário para eliminar complicações presentes no momento da internação. Além disso, exclui pacientes com diagnóstico principal de TVP, pois tais pacientes provavelmente apresentam TVP/EP no momento da internação. Como a TVP/EP pode causar prolongamento desnecessário da internação hospitalar, além de dor, sofrimento e morte, este indicador tem implicações importantes em termos financeiros e de melhoria de qualidade. A possibilidade de ocorrer superdiagnóstico pelo rastreamento de pacientes pós-operatórios de alto risco, porém assintomáticos, é uma preocupação crescente, podendo explicar o risco acentuadamente elevado desse evento em grandes hospitais de ensino e grandes hospitais (Vartak et al., 2008). Em suma, evidências recentes sugerem que este indicador deve ser usado com muita cautela para a comparação dos desempenhos de hospitais, a menos que existam informações validadas sobre o momento do diagnóstico e/ou as veias específicas envolvidas.
Banco de dados administrativos hospitalares
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