Uma abordagem integrada liderada por um farmacêutico clínico para a avaliação de erros de medicação em pacientes internados em uma unidade de terapia intensiva clínica
Resumo
Objetivo: Os erros de medicação comprometem a segurança de pacientes criticamente doentes. O uso de apenas um método para a detecção de erros de medicação pode não refletir com precisão o estado de segurança do paciente. Por isso, elaboramos uma abordagem integrada liderada por um farmacêutico clínico para avaliar a taxa de incidência, o tipo e a gravidade dos erros de medicação e eventos adversos a medicamentos (EAMs) evitáveis e para avaliar o impacto da implementação das intervenções recomendadas pelo farmacêutico clínico.
Métodos: Realizamos um estudo prospectivo de novembro de 2017 a janeiro de 2019 em uma UTI clínica. O farmacêutico clínico aplicou diversos métodos de detecção de erros de medicação, que incluíram a revisão da ficha de prescrição, o monitoramento do paciente até a alta hospitalar ou morte e a participação em rondas clínicas. Ao detectar erros de medicação, o farmacêutico aplicou uma intervenção junto aos prescritores. Com base na decisão dos prescritores após as intervenções, os pacientes foram divididos em dois grupos: A (as intervenções do farmacêutico clínico foram implementadas) e B (as intervenções do farmacêutico clínico não foram implementadas). Comparamos os resultados do cuidado nos dois grupos de estudo para avaliar o impacto da implementação das intervenções pelo farmacêutico clínico.
Resultados: Foram detectados 271 erros de medicação (122,62 por 1000 pacientes-dias) nos pacientes do estudo (N=228). As interações medicamentosas (70, 25,8%), a falta de adesão às diretrizes (51, 18,8%) e o monitoramento inadequado da medicação (29, 11%) foram os tipos mais comuns de erros de medicação. Ao todo, 86% das intervenções do farmacêutico clínico foram implementadas pelos prescritores. Aproximadamente a metade dos erros de medicação foi interceptada antes de chegar aos pacientes nos quais foram implementadas as intervenções do farmacêutico clínico (grupo A). No geral, os erros de medicação induziram 33 EAMs evitáveis (14,93 por 1000 pacientes-dias), dos quais o número de EAMs evitáveis foi significativamente maior no grupo B (p<0,0001). Uma observação significativa foi que, no grupo B, os erros de medicação detectados iniciaram cadeias de erros consecutivos quando as intervenções do farmacêutico clínico não foram aceitas. Além disso, este grupo teve um tempo de internação significativamente mais longo (p<0,0001), maior mortalidade (p=0,0312) e mais de três vezes o número de pacientes transferidos internamente para níveis mais altos de atenção (p=0,0235; odds ratio, 3,41; intervalo de confiança de 95%, 1,08-10,8).
Conclusão: A abordagem integrada liderada por um farmacêutico clínico revelou que os erros de medicação ocorrem com frequência em pacientes críticos, e as intervenções do farmacêutico interceptaram a maioria desses erros. O número de EAMs evitáveis foi significativamente menor no grupo de pacientes no qual foram implementadas essas intervenções. Por outro lado, os erros de medicação provocaram cadeias de erros que afetaram negativamente os resultados investigados no grupo de pacientes no qual as intervenções do farmacêutico clínico não foram implementadas.
Abstract
Aim: Medication errors jeopardize the safety of critically ill patients. Using only one method for the detection of medication errors may not reflect an existing picture of patient safety accurately. Therefore, we designed a clinical pharmacist-led integrated approach to evaluate incidence rate, type, and severity of medication errors and preventable adverse drug events (ADEs) and to assess the impact of the implementation of interventions recommended by the clinical pharmacist.
Methods: A prospective study was conducted from November 2017 to January 2019 in the medical ICU. The clinical pharmacist performed a combination of medication error detection methods, which included medication chart review, patient monitoring until discharge/death, and attending medical rounds. Detected medication errors were intervened with prescribers. Based on the prescribers' decision on delivered interventions, patients were divided into two groups: A (clinical pharmacist's interventions were implemented), and B (clinical pharmacist's interventions were not implemented). We compared patients' outcomes obtained from study groups to evaluate the impact of the implementation of interventions performed by the clinical pharmacist.
Results: A total of 271 medication errors (122.62 per 1000 patient hospital-days) were detected among the study patients (n = 228). Drug-drug interactions (70, 25.8%), guideline nonconformity (51, 18.8%), and inadequate drug monitoring (29, 11%) were the most common types of detected medication errors. Eighty-six percentage of the clinical pharmacist's interventions were implemented by prescribers. Approximately half of medication errors were intercepted before reaching to patients who received the clinical pharmacist's interventions (group A). Overall, medication errors induced 33 preventable ADEs (14.93 per 1000 patient hospital-days), of which the number of preventable ADEs was significantly greater in group B (P < 0.0001). Significantly in group B, detected medication errors initiated chains of consecutive errors when the clinical pharmacist's interventions were not accepted. Also, this group had significantly increased length of stay (P < 0.0001), number of deaths (P = 0.0312), and more than a three-fold greater number of patients intratransferring to higher levels of care (P = 0.0235; odds ratio, 3.41; 95% confidence interval, 1.08-10.8).
Conclusion: The clinical pharmacist-led integrated approach revealed that medication errors commonly occurred among critically ill patients, and the clinical pharmacist's interventions intercepted the majority of these medication errors. The number of preventable ADEs was significantly fewer in a group of patients who received these interventions. However, medication errors formed chains of errors that adversely affected patients' investigated outcomes in the study group with no implementation of the clinical pharmacist interventions.