Prevenção e recuperação de incidentes com medicamentos utilizando um sistema australiano de notificação de incidentes em farmácias comunitárias: o estudo QUMwatch
Resumo
Objetivo: Identificar fatores em farmácias comunitárias que facilitam a recuperação de erros que causam incidentes com medicamentos (IMs) e explorar estratégias de prevenção para a segurança dos medicamentos sob a perspectiva do farmacêutico.
Métodos: Trinta farmácias comunitárias em Sydney, na Austrália, participaram de um programa de 30 meses de notificação prospectiva de IMs classificados num Sistema Avançado de Gestão de Incidentes (AIMS), sendo realizada uma análise triangulada com estudos de casos. Os desfechos principais foram as frequências relativas e os padrões identificados na detecção de IMs, minimização, ações restauradoras e recomendações de prevenção pelos farmacêuticos comunitários.
Resultados: Os participantes notificaram 1.013 incidentes, com 831 near misses recuperados e 165 casos de danos aos pacientes. Os IMs tiveram origem principalmente nas etapas de prescrição (68,2%) e distribuição (22,6%), e a maioria foi resolvida na farmácia (76,9%). A detecção foi eficiente nas primeiras 24 horas em 54,6% dos casos, mas em 26,1% só ocorreu depois de um mês ou mais; 37,2% das detecções ocorreram depois que o paciente ingeriu o medicamento. A combinação de ações/atributos específicos (85,5%), intervenções apropriadas (81,6%) e comunicação efetiva (77,7%) minimizou a ocorrência de IMs. Uma série de ações corretivas foi adotada pelos participantes, incluindo notificação, encaminhamento, aconselhamento, modificação do regime de medicamentos, gestão de risco e correções na documentação. As estratégias de prevenção recomendadas envolveram a adoção de uma cultura de segurança de medicamentos (97,8%), a melhor aplicação de políticas e procedimentos (84,6%) e melhorias na educação dos profissionais da saúde (79,9%).
Conclusão: A notificação de incidentes forneceu informações sobre os fatores humanos e organizacionais envolvidos na recuperação de IMs em farmácias comunitárias. A otimização das salvaguardas existentes e a reformulação de certas estruturas e processos podem aumentar a resiliência do sistema de uso de medicamentos na atenção primária.
Abstract
Purpose: To identify factors in community pharmacy that facilitate error recovery from medication incidents (MIs) and explore medication safety prevention strategies from the pharmacist perspective.
Methods: Thirty community pharmacies in Sydney, Australia, participated in a 30-month prospective incident reporting program of MIs classified in the Advanced Incident Management System (AIMS) and the analysis triangulated with case studies. The main outcome measures were the relative frequencies and patterns in MI detection, minimisation, restorative actions and prevention recommendations of community pharmacists.
Results: Participants reported 1013 incidents with 831 recovered near misses and 165 purported patient harm. MIs were mainly initiated at the prescribing (68.2%) and dispensing (22.6%) stages, and most were resolved at the pharmacy (76.9%). Detection was efficient within the first 24 h in 54.6% of MIs, but 26.1% required one month or longer; 37.2% occurred after the patient consumed the medicine. The combination of specific actions/attributes (85.5%), appropriate interventions (81.6%) and effective communication (77.7%) minimised MIs. An array of remedial actions were conducted by participants including notification, referral, advice, modification of medication regimen, risk management and documentation corrections. Recommended prevention strategies involved espousal of medication safety culture (97.8%), better application of policies/procedures (84.6%) and improvements in healthcare providers' education (79.9%).
Conclusion: Incident reporting provided insights on the human and organisational factors involved in the recovery of MIs in community pharmacy. Optimising existing safeguards and redesigning certain structures and processes may enhance the resilience of the medication use system in primary care.