Escapando dos danos iatrogênicos: o que leva os pacientes a evitarem os serviços de saúde mental?
O que se sabe sobre o tema? Sabe-se pouco sobre os danos que podem ser causados pelos serviços de saúde mental, para além daqueles causados por medicação, psicoterapia, erros de diagnóstico e detenção com base na Lei da Saúde Mental do Reino Unido. Os resultados de saúde de pessoas que evitam procurar auxílio nos serviços de saúde mental por terem sofrido danos anteriores não são bem conhecidos. O que este artigo soma aos conhecimentos existentes? Apresento uma perspectiva em primeira pessoa de experiências com danos nos serviços de saúde mental, como isso afetou o meu cuidado, os efeitos de longo prazo dos danos no meu bem-estar e a minha experiência continuada de evitar os serviços de saúde mental. Quais são as implicações para a enfermagem em saúde mental? Os profissionais da saúde devem estar cientes das diversas maneiras pelas quais a prestação de serviços pode prejudicar os pacientes e como, sem que os profissionais saibam, os pacientes podem criar uma compreensão interna sobre a melhor forma de navegar ambientes de saúde nocivos. Os profissionais da saúde precisam ter uma compreensão mais aprofundada das razões pelas quais as pessoas optam por não se envolver com os serviços de saúde mental e que impacto isso pode ter sobre elas. Resumo: Recentemente, foi anunciada a realização da primeira investigação pública legal sobre um serviço de saúde mental no Reino Unido, o que indica um reconhecimento crescente dos danos iatrogênicos em saúde mental. Apesar do potencial de danos em todos os serviços e clínicas, as práticas restritivas, a psicoterapia, o diagnóstico e os medicamentos psiquiátricos frequentemente são as únicas áreas da saúde mental que recebem atenção significativa. Embora o tópico seja amplamente discutido nas comunidades de sobreviventes, os relatos de danos causados pelo funcionamento cotidiano dos serviços — incluindo as culturas das equipes, os processos administrativos e as interações entre profissionais e pacientes — não são investigados na literatura acadêmica. Neste artigo, descrevo a minha jornada de 10 anos pelos serviços de saúde mental e como as práticas cotidianas, culturas e comportamentos dos profissionais afetaram profundamente a minha capacidade de receber cuidados apropriados, replicaram ambientes traumáticos anteriores e prejudicaram a minha saúde mental. Tomando medidas para me proteger de danos adicionais, eu me dei alta e vivo atualmente como uma pessoa que evita os serviços de saúde. As implicações continuadas dessa decisão e os impactos dos danos a longo prazo são discutidos neste artigo.
What is known on the subject?: Little is known about how mental health services can cause harm in ways other than medication, talking therapies, diagnosis and detention under the Mental Health Act. The outcomes of people who avoid seeking help from mental health services due to previous experiences of harm are not well known. What this article adds to existing knowledge?: I provide a first-person perspective of experiences of harm within mental health services, how this impacted my care, the long-term effects of the harm on my well-being and my ongoing experiences of avoiding mental health services. What are the implications for mental health nursing?: Healthcare professionals should be aware of the multitude of ways service provision can harm patients, and how, unknown to professionals, patients may create an internal understanding of how to best navigate harmful service environments. Healthcare professionals should have a deeper understanding of the reasons why people may choose not to engage with mental health services, and what impact this may have on them. Abstract: The recent announcement of the first ever statutory public inquiry into a UK mental health service indicates a growing recognition of iatrogenic harm in mental healthcare. Despite the potential for harm across all services and practices, restrictive practices, psychotherapy, diagnosis and psychiatric medications are often the only areas of mental healthcare given significant attention. While the topic is widely discussed in survivor communities, accounts of harm caused by the everyday workings of services, including team cultures, administrative processes and staff–patient interactions, are missing from academic literature. In this article, I describe my 10-year journey through mental health services, and how everyday practices, cultures and staff behaviour deeply impacted my ability to receive appropriate care, replicated previously traumatic environments, and damaged my mental health. Taking steps to protect myself from further harm, I self-discharged and am currently living as a ‘service-avoider’. The ongoing implications of this decision and the long-term impacts of harm are discussed.