Qualidade das transições do cuidado, incidentes de segurança do paciente e o estado de saúde dos pacientes: um modelo de equações estruturais sobre a complexidade do processo de alta hospitalar
Contexto: A transição de pacientes entre diferentes contextos de cuidado cria riscos à segurança. A alta hospitalar para casa após a internação pode estar associada a desfechos adversos para os pacientes. A qualidade nos processos de alta é essencial para garantir transições seguras. As evidências atuais se baseiam em análises bivariadas e negligenciam fatores contextuais, tais como as características do tratamento e do paciente e as interações entre os possíveis desfechos. Este estudo procurou investigar as associações entre a qualidade e a segurança do processo de alta, os incidentes de segurança do paciente e os desfechos relacionados à saúde após a alta, considerando os fatores contextuais dos tratamentos e dos pacientes em um modelo abrangente. Métodos: Pacientes com pelo menos 18 anos de idade que receberam alta para casa após pelo menos três dias de tratamento hospitalar preencheram um questionário de autoavaliação. Ao todo, 825 pacientes participaram do estudo. Utilizamos a Medida de Transições de Cuidado (Care Transitions Measure, CTM) para avaliar a qualidade e a segurança do processo de alta sob a perspectiva do paciente. Esta escala autoadministrada avalia a incidência de reinternações não planejadas e complicações relacionadas à medicação, o estado de saúde e características sociodemográficas e relacionadas ao tratamento. As análises estatísticas incluíram a modelagem de equações estruturais e análises adicionais usando regressões logísticas. Resultados: Transições de cuidado de maior qualidade estiveram associadas a uma menor incidência de complicações relacionadas à medicação (B=-0,35, p<0,01) e a um melhor estado de saúde (B=0,74, p<0,001), mas não a uma menor incidência de reinternações (B=-0,01, p=0,39). Esses efeitos foram controlados pelas influências de várias características sociodemográficas e relacionadas ao tratamento na modelagem de equações estruturais. Análises adicionais mostraram que essas associações só eram constantes quando todas as subescalas da CTM foram incluídas. Conclusão: A qualidade e a segurança no processo de alta hospitalar são fundamentais para garantir transições seguras de pacientes para o cuidado domiciliar. Este estudo contribui para uma melhor compreensão do complexo processo de alta, aplicando um modelo no qual foram considerados vários fatores contextuais e interações. Os resultados revelaram que processos de alta hospitalar de maior qualidade estão associados a uma menor probabilidade de incidentes de segurança do paciente e a um melhor estado de saúde em casa, mesmo quando consideramos características sociodemográficas e relacionadas ao tratamento. Este estudo corrobora a necessidade de desenvolver processos de alta individualizados e centrados no paciente para fortalecer a segurança do paciente nas transições do cuidado de saúde.
BACKGROUND: The transition of patients between care contexts poses patient safety risks. Discharges to home from inpatient care can be associated with adverse patient outcomes. Quality in discharge processes is essential in ensuring safe transitions for patients. Current evidence relies on bivariate analyses and neglects contextual factors such as treatment and patient characteristics and the interactions of potential outcomes. This study aimed to investigate the associations between the quality and safety of the discharge process, patient safety incidents, and health-related outcomes after discharge, considering the treatments' and patients' contextual factors in one comprehensive model. METHODS: Patients at least 18 years old and discharged home after at least three days of inpatient treatment received a self-report questionnaire. A total of N = 825 patients participated. The assessment contained items to assess the quality and safety of the discharge process from the patient's perspective with the care transitions measure (CTM), a self-report on the incidence of unplanned readmissions and medication complications, health status, and sociodemographic and treatment-related characteristics. Statistical analyses included structural equation modeling (SEM) and additional analyses using logistic regressions. RESULTS: Higher quality of care transition was related to a lower incidence of medication complications (B = -0.35, p < 0.01) and better health status (B = 0.74, p < 0.001), but not with lower incidence of readmissions (B = -0.01, p = 0.39). These effects were controlled for the influences of various sociodemographic and treatment-related characteristics in SEM. Additional analyses showed that these associations were only constant when all subscales of the CTM were included. CONCLUSIONS: Quality and safety in the discharge process are critical to safe patient transitions to home care. This study contributes to a better understanding of the complex discharge process by applying a model in which various contextual factors and interactions were considered. The findings revealed that high quality discharge processes are associated with a lower likelihood of patient safety incidents and better health status at home even, when sociodemographic and treatment-related characteristics are taken into account. This study supports the call for developing individualized, patient-centered discharge processes to strengthen patient safety in care transitions.