Corticóide oral para doença pulmonar obstrutiva crônica estável

Autor pessoal
WOOD-BAKER, R.
WALTERS, J. A.
WALTERS, E. H.
Título original
Oral corticosteroids for stable chronic obstructive pulmonary disease
Resumo

Contexto: A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é um transtorno pulmonar comum, geralmente relacionado ao tabagismo, que representa uma causa importante e crescente de morbidade e mortalidade. É definida como "um estado patológico caracterizado por uma limitação do fluxo de ar não inteiramente reversível. A limitação ao fluxo de ar geralmente é progressiva e está associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões a partículas ou gases nocivos". Foi sugerido o uso de corticosteróides para tratar a DPOC, por seus efeitos anti-inflamatórios. Objetivos: Avaliar os efeitos dos corticosteróides orais na saúde de pacientes com DPOC estável.

Estratégia de busca: Foram realizadas buscas no Cochrane Airways Group Specialised Register e na MEDLINE, em dezembro de 2003 e 2004. Artigos de revisão e bibliografias também foram investigados.

Critérios de seleção: Estudos randomizados e controlados prospectivos em adultos com DPOC estável (VEF1 pós-broncodilatador <80% do previsto, VEF1/CVF <70%) e história de tabagismo, excluindo pacientes sabidamente asmáticos, nos quais o uso de corticosteróides orais foi comparado com placebo e o uso de co-intervenções foi equiparado nos dois grupos. Coleta e análise dos dados: Os dados foram extraídos independentemente por dois revisores. Todos os estudos foram combinados usando-se o Review Manager.

Resultados principais: Dentre 459 títulos, 24 estudos preencheram os critérios de inclusão. O tratamento durou 3 semanas ou menos em 19 estudos, uma dose alta de corticosteróides foi usada em 21 estudos, e os sujeitos experimentais tiveram DPOC moderada ou grave em 15 estudos. Houve uma diferença significativa no VEF1 após duas semanas de tratamento, com diferença média ponderada (DMP) de 53,30 ml (intervalo de confiança [IC] de 95% 22,21 a 84,39), favorecendo o uso de corticosteróides orais em comparação com placebo após a combinação de 14 estudos disponíveis (n=396), sem heterogeneidade significativa. Observou-se um aumento significativo na chance de ocorrer uma resposta maior que 20% no VEF1 de um paciente específico a partir da linha de base após o tratamento com corticosteróides em comparação com o placebo, (OR 2,71; IC 95% 1,84 a 4,01 [9 estudos]). Seria necessário tratar 7 pacientes (IC 95% 5 a 12) com corticosteróides orais para atingir um caso extra de aumento do VEF1 acima de 20%, com risco de 0,13 no grupo placebo. Todas as diferenças na qualidade de vida ligada à saúde se mantiveram abaixo da diferença mínima clinicamente importante. O tratamento com corticosteróides orais gerou pequenas vantagens estatisticamente significativas em termos de capacidade funcional e do sintoma respiratório de sibilação, mas não se observaram diferenças significativas no risco de retirada do estudo devido a um aumento da taxa de exacerbações graves ao longo de 2 anos durante o tratamento com corticosteróides orais em dose baixa. Observou-se um risco aumentado de eventos adversos, como elevação da glicemia, supressão adrenal e redução na osteocalcina sérica. 

Conclusões dos autores: Não há evidências para corroborar o uso de corticosteróides orais de longo prazo em doses abaixo de 10-15 mg de prednisolona; no entanto, algumas evidências indicam que doses mais altas (? 30 mg de prednisolona) melhorem a função pulmonar durante um curto período. Efeitos potencialmente lesivos, como diabetes, hipertensão e osteoporose impediriam a recomendação de uso prolongado nestas doses altas na maioria dos pacientes.

Resumo original

Background: Chronic obstructive pulmonary disease (COPD) is a common chronic lung disorder, usually related to cigarette smoking, representing a major and increasing cause of morbidity and mortality. It is defined "as a disease state characterized by airflow limitation that is not fully reversible. The airflow limitation is usually both progressive and associated with an abnormal inflammatory response of the lungs to noxious particles or gases". The use of corticosteroids for their anti-inflammatory effects has been suggested.

Objectives: To assess the effects of oral corticosteroids on the health status of patients with stable COPD.

Search strategy: Searches of the Cochrane Airways Group Specialised Register and MEDLINE were carried out in December 2003 and 2004. Review articles and bibliographies were searched. Selection criteria: Randomised controlled prospective studies in adults with stable COPD ( post-bronchodilator FEV1 <80% of predicted, FEV1/FVC <70%) and a history of smoking, excluding known asthmatics, in which oral steroid use was compared with placebo and use of co-interventions was matched in both groups.

Data collection and analysis: Data was extracted independently by two reviewers. All trials were combined using Review Manager. Main results: From 459 titles 24 studies met the inclusion criteria. Treatment lasted three weeks or less in 19 studies, high dose oral steroid was used in 21 studies and subjects had moderate or severe COPD in 15 studies. There was a significant difference in FEV1 after two weeks treatment, WMD 53.30 ml; 95% confidence interval 22.21 to 84.39 favouring oral steroid use compared to placebo when 14 studies with available data (n=396) were combined, with no significant heterogeneity. There was a significant increase in odds for individual patient FEV1 response greater than 20% from baseline with high dose oral steroid treatment compared to placebo, OR 2.71; 95% CI 1.84 to 4.01 (9 studies) . It would be necessary to treat 7 patients (95% CI 5 to 12) with oral corticosteroids to achieve one extra case of increasing FEV1 by more than 20%, with a placebo group risk of 0.13. All differences in health-related quality of life were less than the minimum clinically important difference. There were small statistically significant advantages for functional capacity and respiratory symptom of wheeze with oral steroid treatment but no significant difference in risk of withdrawal from study due to an exacerbation or rate of serious exacerbations over 2 years with low dose oral steroid treatment. There was an increased risk of adverse effects, including increased blood glucose, adrenal suppression and reduced serum osteocalcin.

Authors' conclusions: There is no evidence to support the long-term use of oral steroids at doses less than 10-15 mg prednisolone though some evidence that higher doses (? 30 mg prednisolone) improve lung function over a short period. Potentially harmful adverse effects e.g.. diabetes, hypertension, osteoporosis would prevent recommending long-term use at these high doses in most patients.

Revista
The Cochrane Database of Systematic Reviews
doi
10.1002/14651858.CD005374
Volume
20
Fascículo
3
Páginas
CD005374
Fonte
2005.
Público Alvo
Médicos
Objetivo
Avaliar os efeitos dos corticoesteróides orais em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica estável
Breve descrição

Esta revisão sistemática produzida pela Cochrane em 2005, busca avaliar as evidências em relação ao papel dos corticóides orais no tratamento de pacientes com DPOC. Avaliando-se os impactos na função pulmonar e nos sintomas, além do risco de diabetes e osteoporose entre os pacientes que usaram ou não este tratamento.

Data de publicação