Incidência de eventos adversos relacionados ao cuidado de saúde: resultados do Estudo Nacional Espanhol de Eventos Adversos (ENEAS)
Objetivo: Determinar a incidência e a densidade de incidência de eventos adversos (EAs) em hospitais espanhóis (incluindo o período pré-internação).
Método: Estudo de coorte retrospectivo.
Resultados: A incidência de pacientes com EAs diretamente relacionados ao cuidado hospitalar foi de 8,4% (IC 95%, 7,7% a 9,1%) e aumentou para 9,3% (IC 95%, 8,6% a 10,1%) quando incluídos os eventos ocorridos no período pré-internação. A densidade de incidência foi de 1,2 EAs por 100 pacientes-dia (IC 95%, 1,1 a 1,3). A incidência de EAs moderados e graves foi de 5,6 EAs por 1.000 pacientes-dia (IC 95%, 4,9% a 6,3%). Em 66,3% dos EAs foram necessários procedimentos adicionais e, em 69,9%, foram necessários tratamentos adicionais. No total, 42,8% dos EAs foram considerados evitáveis. Dentre os pacientes com fatores de risco intrínsecos, 13,2% sofreram EAs, em comparação com 5,2% dos que não tinham fatores de risco (p < 0,001); 9,5% dos pacientes que tinham fatores de risco extrínsecos sofreram EAs, em comparação com 3,4% dos que não os tinham (p<0,001). Os pacientes com mais de 65 anos de idade apresentaram uma frequência mais alta de EAs que os pacientes abaixo dessa idade (12,4% versus 5,4%, p < 0,001, RR: 2,5). Os EAs mais frequentes foram aqueles relacionados a medicamentos (37,4%), infecções hospitalares de qualquer tipo (25,3%) e problemas técnicos durante um procedimento (25,0%). Um total de 31,4% dos EAs acarretou aumento do tempo de internação. Os EAs associados ao cuidado de saúde provocaram 6,1 dias adicionais de internação, por paciente.
Conclusões: A incidência de pacientes com EAs relacionados ao cuidado de saúde em hospitais espanhóis foi relevante e semelhante às incidências encontrada em estudos feitos no Canadá e na Nova Zelândia, que foram conduzidos com uma metodologia comparável. A vulnerabilidade dos pacientes foi identificada como um forte fator para ocorrência de EAs relacionados ao cuidado de saúde. Estes e outros resultados recentes indicam a necessidade de que os EAs sejam considerados uma prioridade de saúde pública na Europa.
Objective: To determine the incidence and incidence density of adverse events (AEs) in Spanish hospitals (including the pre-hospitalisation period).
Method: Retrospective cohort study.
Results: The incidence of patients with AEs relating directly to hospital care was 8.4% (95% CI 7.7% to 9.1%) and rose 9.3% (95% CI 8.6% to 10.1%), including those from the pre-hospitalisation period. The incidence density was 1.2 AEs per 100 patient-days (95% CI 1.1 to 1.3). The incidence of moderate and serious AEs was 5.6 AEs per 1000 patient-days (95% CI 4.9% to 6.3%). In 66.3% of AEs, additional procedures were required and in 69.9% additional treatments were required. In total 42.8% of AEs were considered as avoidable. Of the subjects with some intrinsic risk factors, 13.2% developed AEs compared with 5.2% of the subjects who had no risk factors (p<0.001), and 9.5% of the subjects who had some extrinsic risk factors developed AEs compared with 3.4% of the subjects who had not (p<0.001). Patients older than 65 years of age showed a higher frequency of AEs than those under this age (12.4% vs 5.4%, p<0.001, RR 2.5). The most frequent AEs were those associated with medication (37.4%), hospital infections of any type (25.3%) and those relating to technical problems during a procedure (25.0%). A total of 31.4% of the AEs involved an increase in the length of stay. The AEs associated with medical assistance caused 6.1 additional hospital stays by patient.
Conclusions: The incidence of patients with AE related to medical assistance in Spanish hospitals was relevant and similar to those found in the studies from Canada and New Zealand that had been conducted with comparable methodology. Patient vulnerability has been identified therein as playing a major role in generating healthcare-related AEs. These and other recent results indicate the need for AEs to be considered a public health priority in Europe.
