Hemorragia pós-parto é a segunda causa de morte materna no Brasil
Evento adverso é evitável através de ações para o Parto Seguro
No dia 19 de agosto de 2017, o Jornal Extra publicou a matéria do caso de uma paciente de 27 anos, que faleceu dois dias depois de dar à luz a gêmeos, em consequência a uma hemorragia interna e hemoperitônio (presença de sangue na cavidade peritoneal-no abdômen), segundo a declaração de óbito da paciente. O parto foi realizado na maternidade do Hospital São João de Meriti, no Município de São João de Meriti. A hemorragia é a segunda causa de morte materna no Brasil, porém é um evento adverso que pode ser evitado através de ações para o parto e nascimento seguro.
A Maternidade Leila Diniz, uma maternidade municipal que integra o Hospital Municipal Lourenço Jorge da cidade do Rio de Janeiro, uma instituição do SUS, desde 2014 não registra óbito por causa básica a hemorragia pós-parto. Para falar sobre as estratégias implementadas na maternidade, o Proqualis entrevistou a médica Fátima Penso, Coordenadora Materno-Infantil da Maternidade Leila Diniz.
Proqualis – A Maternidade Leila Diniz não registra desde 2014 morte materna por causa básica a Hemorragia pós-parto. O Brasil ainda tem como uma das maiores causas de morte materna a Hemorragia pós-parto. Quais as estratégias foram implementadas na maternidade a qual coordena, que apresenta resultados exitosos diante desse cenário lamentável ainda em nosso país, como esse caso que aconteceu da jovem mãe perder a vida após dar à luz a filhos gêmeos?
Fátima Penso- Primeiro passo da nossa instituição foi instituir o protocolo de prevenção e manejo da Hemorragia Pós-parto. Nesse protocolo adotamos medidas de vigilância para a Hemorragia pós-parto, ou seja, temos uma lista verificação para a hemorragia pós-parto que avalia o volume de sangue perdido em ml para uma paciente entre 50 a 70 kg, a partir da troca de absorventes, que é uma média do escore da literatura que irá nortear nossas práticas, alinhado aos sinais clínicos da paciente, tais como agitação, letargia ou inconsciência, perfusão, pulso e PA sistólica para avaliação da necessidade de intervenção com medicação ou até mesmo transfusão de sangue e, em caso de medida extrema para salvar a paciente, a histerectomia.
O diferencial de nossas medidas está em uma estratégia simples e de baixo custo que é a Caixa do Código Vermelho, que é uma caixa com o kit hemorragia já pronto, com todos os recursos necessários para que o profissional de saúde ao diagnosticar a Hemorragia posso agir rapidamente. Nesse kit de Hemorragia estão disponíveis as medicações para emergência, fluxo com o checklist e todo material descartável para a intercorrência.
Além disso, realizamos periodicamente treinamento para prevenção e manejo da hemorragia pós-parto para capacitar todos nossos profissionais.
Proqualis- Quais são os desafios na implementação do protocolo e suas medidas?
Fátima Penso – Sem dúvida é a capacitação permanente das equipes. Para que os profissionais já treinados sejam reciclados e para os novos integrantes das equipes sejam capacitados. Dessa maneira, estamos mantendo o protocolo sempre “vivo” nas atividades de rotina da maternidade. Realizamos reuniões com os líderes das equipes para analisar as causas de óbito da instituição, revisão de prontuário das pacientes hemotransfundidas e principalmente realizar auditorias internas do processo de trabalho. Monitorar o processo é fundamental para melhorias.
Proqualis – Há algum diferencial na maternidade de ferramenta utilizada que complementa o protocolo de Hemorragia?
Fátima Penso- Além do Kit hemorragia que já vem pronto e disponível em uma caixa para agilizar o atendimento da emergência, a maternidade conta com o material gráfico que são quadros os itens do checklist para diagnóstico do choque hemorrágico, o guia de bolso para Hemorragia pós-parto distribuídos aos profissionais na ocasião da capacitação, materiais esses que foram disponibilizados pelo projeto de pesquisa projeto de pesquisa “Desenvolvimento, implementação e avaliação de uma intervenção multifacetada para a melhoria do cuidado obstétrico em maternidade do SUS”, liderado por Margareth Portela, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fiocruz e coordenadora geral do Proqualis do Icict/Fiocruz.
Por fim, destaco que para que resultados sejam alcançados é primordial o envolvimento das lideranças e compromisso dos gestores. Hoje, a principal causa de morte materna nessa instituição é a sepse. Nosso próximo desafio será a implementação do protocolo de prevenção e manejo da sepse para o parto seguro.