Pesquisa ouviu mulheres em maternidades do Rio para saber o que importa na hora do parto

A importância de uma atenção obstétrica segura e de qualidade

Por Isis Breves | Publicado em 18/04/2017

“O que mais importa para as mulheres durante o trabalho de parto e o parto?” Este foi o título da pesquisa de Mestrado de Juliana Loureiro, aluna da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz. O estudo teve o objetivo de ouvir o que as mulheres tinham a dizer sobre suas expectativas e percepções relativas ao trabalho de parto e ao parto, a fim de contribuir para a prestação de uma atenção obstétrica segura e de qualidade. A orientação é de Margareth Portela, pesquisadora da Ensp e Coordenadora-Geral do Proqualis, vinculado ao Icict/Fiocruz. O estudo foi apresentado no evento Qualihosp em São Paulo e foi premiado em 4º lugar pela categoria Avaliação em Saúde. 

“O estudo enfatiza o protagonismo da mulher na configuração do sistema de saúde, no que diz respeito à organização do cuidado e ao desenho do processo, de modo que as gestantes vivenciem boas experiências no trabalho de parto e no parto. Saber o que as mulheres têm a dizer sobre suas expectativas e percepções relativas ao trabalho de parto e ao parto contribui para a prestação de uma atenção de qualidade, segura, efetiva, esclarecedora, respeitosa às escolhas individuais, que reconhece a dimensão subjetiva como um dos tripés de um cuidado baseado em evidências. Foi um trabalho baseado em evidências que destacou, durante análise de elementos que conformam a prática do cuidado centrado no paciente, um dos objetivos da qualidade do cuidado. O movimento “What matters to you?” – apoiado pelo Institute for Healthcare Improvement (IHI) – é fundamental para o estabelecimento de parcerias na prestação do cuidado e para o engajamento mais profundo na relação entre profissionais, pacientes e membros da família”, explica Juliana Loureiro. 

Juliana realizou um estudo qualitativo com grávidas de 1ª gestação, no puerpério imediato, atendidas em três maternidades públicas do município do Rio de Janeiro. “Foram feitas 27 entrevistas com base em um roteiro previamente elaborado, que levou em conta elementos técnicos do cuidado centrado no paciente. As perguntas levavam em consideração relação interpessoal, comunicação e informação, decisão compartilhada e participação da mulher e acompanhantes. A análise das transcrições foi feita pelo método análise de conteúdo. Aspectos destacados como relevantes pelas entrevistadas para um bom atendimento foram: a atenção dos profissionais para com a dor e o sofrimento; a utilização das boas práticas de atenção ao parto; a presença de um profissional durante todo o processo de trabalho de parto; e informações contínuas da evolução do parto à mulher e ao seu acompanhante”, relata. 

A pesquisa apontou ainda que algumas mulheres associaram sua experiência negativa ao desrespeito dos profissionais de saúde durante o trabalho de parto, caracterizado por procedimentos cientificamente não recomendados, comentários inadequados e discursos ofensivos. “Apesar de toda política em prol da melhoria do cuidado obstétrico, da humanização do parto, do fortalecimento do protagonismo da mulher e do cuidado centrado nas necessidades da mulher, ainda há resistência e muito a ser feito nos serviços de saúde no que se refere ao desenvolvimento de uma relação acolhedora, pautada no diálogo e na escuta”, afirma Juliana.

Enfim, a pergunta "O que mais importa para as mulheres?" propiciou a identificação de elementos que, na concepção de mulheres que se encontravam em trabalho de parto ou que acabaram de dar à luz nas maternidades, contribuem para um trabalho de parto e parto humanizado que gere bons resultados de saúde e experiências obstétricas bem-sucedidas. A análise das respostas apontou que se faz necessário ampliar os espaços de discussão acerca do trabalho de parto, do parto e do pós-parto no âmbito das unidades de saúde e na própria comunidade, permitindo à mulher expressar o que realmente é mais importante para ela, para que, a partir daí, ocorra a formulação e a implementação de ações necessárias para que possam desenvolver melhorias nos mais diferentes níveis de atenção em que se dá o cuidado obstétrico”, finaliza Juliana. 

Créditos da imagem: Revista Crescer