Por Isis Breves | Publicado em 17/11/2016
O uso de medicamentos interfere no desenvolvimento de úlceras por pressão? Esta é a questão norteadora da entrevista do portal Proqualis com a Farmacêutica Patricia Helena Castro Nunes do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) da Fiocruz e membro da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Feridas e Estética (SOBENFeE).
Patrícia e Mara Blanck, enfermeira e presidente da SOBENFeE, discutem o tema no artigo “A escala de Braden e os medicamentos” publicado na Revista in Derme Enfermagem Atual em 2013. O estudo apontou a potencial interferência do uso de medicamentos no risco de desenvolvimento de úlceras por pressão.
“O uso de medicamentos e o risco de desenvolvimento de úlcera por pressão é um tema pouco estudado e há escassa literatura específica sobre o assunto. No Brasil, o instrumento mais utilizado para avaliar o risco de desenvolvimento de úlceras por pressão em pacientes ambulatoriais e hospitalizados é a escala de Braden. Originalmente desenvolvida nos EUA na década de 80, a escala foi adaptada e validada para a cultura brasileira em 1999. Consiste de seis sub escalas: (1) percepção sensorial, (2) umidade, (3) atividade, (4) mobilidade, (5) nutrição e (6) fricção e cisalhamento. Cada subescala pode ser pontuada de acordo com o grau de risco em escores de 1 a 4 (exceto fricção e cisalhamento, de 1 a 3). A somatória igual ou menor que 16 denota que o paciente adulto tem risco para o desenvolvimento de úlcera por pressão. Na presença de outros fatores como idade maior que 65 anos, febre, baixa ingestão de proteína, pressão diastólica inferior a 60 mmHg e/ou instabilidade hemodinâmica os pacientes com escores 17 e 18 também são considerados pacientes de risco”, afirma Patrícia Helena.
Os medicamentos e seus respectivos eventos adversos podem alterar o risco de desenvolvimento de úlcera por pressão e, por conseguinte, interferir na pontuação das sub-escalas. Como exemplos, sonolência, confusão mental, hipotensão, delirium e eventos adversos motores causados por medicamentos podem diminuir a percepção sensorial, a deambulação e a mobilidade do paciente, bem como aumentar o risco de ocorrência de fricção e cisalhamento, parâmetros avaliados em quatro das subescalas da escala de Braden. Além disso, medicamentos como os antitérmicos, diuréticos e todos aqueles que causam diarréia (ex. antimicrobianos), podem aumentar o contato da pele do paciente com suor, urina e fezes, avaliado na subescala umidade. O padrão de alimentação do paciente (avaliado na subescala nutrição), por sua vez, pode ser influenciado por todos os eventos adversos a medicamentos citados anteriormente e também por anorexia, alterações no paladar, xerostomia, estomatites, mucosite, úlceras esofageanas, sintomas dispépticos, náuseas e vômitos.
Estes exemplos ilustram a relevância da avaliação da farmacoterapia vigente e de seus eventos adversos na prevenção de úlceras por pressão. Contudo, nem sempre será possível reduzir o risco através destas ações, cabendo, nestes casos, à equipe e aos gestores discutirem quais as medidas de cuidado e suporte podem ser utilizadas para mitigar os riscos em pacientes mais vulneráveis, explica Patrícia Helena.
Por fim, a farmacêutica destaca que a prevenção de úlceras de pressão, uma das metas do Programa Nacional de Segurança do Paciente, requer uma atuação interdisciplinar com participação de todos os profissionais envolvidos na assistência, especialmente enfermeiros, médicos, nutricionistas, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos.
Entrevista com a farmacêutica Patrícia Helena Castro Nunces, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chadas (INI/Fiocruz)