Contexto: Foi demonstrado que a metformina, um anti-hiperglicemiante oral, reduz a mortalidade total em comparação com outros anti-hiperglicemiantes no tratamento do diabetes melito tipo 2. Entretanto, acredita-se que a metformina aumente o risco de acidose láctica, e considera-se que esteja contraindicada em muitas condições hipoxêmicas crônicas que podem estar associadas à acidose láctica, como doenças cardiovasculares, renais, hepáticas e pulmonares, além da idade avançada.
Objetivos: Avaliar a incidência de acidose láctica fatal e não-fatal e avaliar os níveis de lactato sérico em pacientes que estejam em tratamento com metformina em comparação com o placebo ou com outras terapias.
Estratégia de busca: Foi realizada uma busca abrangente em bancos de dados eletrônicos para identificar estudos sobre o tratamento com metformina. A busca foi ampliada examinando-se referências dos artigos identificados e contatando-se os pesquisadores principais.
Critérios de seleção: Foram incluídos estudos prospectivos e estudos de coorte observacionais em pacientes com diabetes tipo 2 de no mínimo um mês de duração que avaliassem a metformina, isolada ou combinada a outros tratamentos, em comparação com placebo ou outra terapia para redução da glicose.
Coleta e análise dos dados: A incidência de acidose láctica fatal e não-fatal foi registrada na forma de casos por pacientes-ano para o tratamento com metformina e para os outros tratamentos. O limite superior da incidência real de casos foi calculado usando-se a estatística de Poisson. Numa segunda análise, os níveis de lactato foram medidos como a variação líquida a partir da linha de base ou como valores médios (basais e estimulados pela alimentação ou exercício) nos grupos de tratamento e de comparação. Os resultados combinados foram registrados como uma diferença média ponderada (DMP) em mmol/L, usando o modelo de efeitos fixos para dados contínuos.
Resultados principais: Os dados combinados de 347 estudos comparativos e estudos de coorte não revelaram casos de acidose láctica fatal ou não-fatal em 70.490 pacientes-ano em uso de metformina nem em 55.451 pacientes-ano no grupo não-metformina. Usando a estatística de Poisson, o limite superior da incidência real de acidose láctica por 100.000 pacientes-ano foi de 4,3 casos no grupo que usou metformina e 5,4 casos no outro grupo. Não foram observadas diferenças nos níveis de lactato, nem como níveis médios durante ou tratamento nem como uma variação líquida a partir da linha de base, entre as terapias com ou sem metformina.
Conclusões dos autores: Os estudos prospectivos comparativos e os estudos de coorte observacionais não mostram evidências de que a metformina esteja associada a um risco aumentado de acidose láctica nem a níveis aumentados de lactato quando comparada a outros tratamentos anti-hiperglicemiantes.
Background: Metformin is an oral anti-hyperglycemic agent that has been shown to reduce total mortality compared to other anti-hyperglycemic agents, in the treatment of type 2 diabetes mellitus. Metformin, however, is thought to increase the risk of lactic acidosis, and has been considered to be contraindicated in many chronic hypoxemic conditions that may be associated with lactic acidosis, such as cardiovascular, renal, hepatic and pulmonary disease, and advancing age.
Objectives: To assess the incidence of fatal and nonfatal lactic acidosis, and to evaluate blood lactate levels, for those on metformin treatment compared to placebo or non-metformin therapies.
Search strategy: A comprehensive search was performed of electronic databases to identify studies of metformin treatment. The search was augmented by scanning references of identified articles, and by contacting principal investigators.
Selection criteria: Prospective trials and observational cohort studies in patients with type 2 diabetes of least one month duration were included if they evaluated metformin, alone or in combination with other treatments, compared to placebo or any other glucose-lowering therapy.
Data collection and analysis: The incidence of fatal and nonfatal lactic acidosis was recorded as cases per patient-years, for metformin treatment and for non-metformin treatments. The upper limit for the true incidence of cases was calculated using Poisson statistics. In a second analysis lactate levels were measured as a net change from baseline or as mean treatment values (basal and stimulated by food or exercise) for treatment and comparison groups. The pooled results were recorded as a weighted mean difference (WMD) in mmol/L, using the fixed-effect model for continuous data.
Main results: Pooled data from 347 comparative trials and cohort studies revealed no cases of fatal or nonfatal lactic acidosis in 70,490 patient-years of metformin use or in 55,451 patients-years in the non-metformin group. Using Poisson statistics the upper limit for the true incidence of lactic acidosis per 100,000 patient-years was 4.3 cases in the metformin group and 5.4 cases in the non-metformin group. There was no difference in lactate levels, either as mean treatment levels or as a net change from baseline, for metformin compared to non-metformin therapies.
Authors' conclusions: There is no evidence from prospective comparative trials or from observational cohort studies that metformin is associated with an increased risk of lactic acidosis, or with increased levels of lactate, compared to other anti-hyperglycemic treatments.
A metiformina é uma das principais drogas para o controle famacológico do Diabetes Mellitus tipo 2. Esta revisão sistemática da Cochrane aborda o risco da acidose lática, sistematizando de forma precisa as evidências existentes acerca do efeito colateral com o uso deste medicamento.